"Todos os presidentes do Brasil estão sob investigação policial!"
Sarney, Lula, Dilma, Fernando Henrique Cardoso e Collor de
Mello.
Collor, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma têm a
polícia à perna. Faltava Sarney. Já não falta. O Planalto já não é lugar seguro
nem para Temer, o atual inquilino. Observadores aprovam com cautela
Em 2012, nas sondagens de opinião publicadas no Brasil sobre
o julgamento do mensalão, escândalo de corrupção nos anos 1990 que envolveu a
cúpula do governo de Lula da Silva (PT) e deputados da sua ampla base aliada, a
maioria dos inquiridos respondia que o caso não ia dar em nada. "Já viu
ricos e poderosos na cadeia neste país?", argumentava o cidadão comum
entrevistado na rua. Tornou-se consensual dizer, em reuniões de cafés, fóruns
de internet ou mesas-redondas na TV, que "vai terminar tudo em piza",
a expressão brasileira equivalente a "acabar em águas de bacalhau". Como se sabe, o mais mediático dos réus, José Dirceu, histórico do PT e
todo-poderoso ex-ministro da Casa Civil de Lula, foi mesmo condenado a mais de
dez anos de prisão. O presidente e o tesoureiro do partido idem, além de
dezenas de políticos e gestores.
Menos de quatro anos depois, no Brasil já ninguém fala em
piza. José Sarney, alma do PMDB, o maior partido brasileiro, acaba de ver a sua
reforma dourada no Maranhão, estado cuja família (ou aliados) governou durante
meio século, abalada por um pedido de prisão solicitado por Rodrigo Janot,
procurador-geral da República que Sarney presidiu nos anos 1980.
"Estamos a assistir ao maior expurgo que esta classe
política formada depois de 1945 já passou, a classe política e o sistema
político-partidário estão incomodados enquanto a população celebra, é um novo
Brasil", defende o cientista político Paulo Baía ao DN.
Collor de Mello, primeiro presidente eleito
pós-redemocratização e único (por enquanto) destituído do cargo, chegou a
chamar, em pleno Senado, "filho da puta" a Janot. Foi dias depois de
a polícia apreender três carros supostamente pagos com dinheiro desviado do
petrolão.
Fernando Henrique Cardoso (PSDB), ministro das Finanças do
falecido Itamar Franco e depois presidente, prestou depoimento em abril à
polícia federal sobre o caso do pagamento a uma ex--amante através de um
contrato fictício com uma empresa com bom trânsito em Brasília durante o seu
governo.
Um caso que surgiu na imprensa ao mesmo tempo que Lula,
sucessor de F.H.C., era levado a uma esquadra para responder sobre a posse não
declarada de duas propriedades pagas por construtoras ligadas ao petrolão. Por
causa da ligação a outra construtora, a Odebrecht, é suspeito de tráfico de
influências internacional.
A sua sucessora, Dilma Rousseff (PT), é julgada pelo Senado
por causa das "pedaladas fiscais", tem as contas da sua campanha em
2014 sob investigação do Tribunal Eleitoral e foi citada duas vezes por
delatores da Lava-Jato. Michel Temer (PMDB), o seu substituto, foi citado ainda
mais vezes.
"É uma questão estrutural", adverte ao DN o
colunista da revista Carta Capital Matheus Pichonelli. "E só terá efeitos
saudáveis se a opinião pública entender que estes vícios não pertencem a um ou
a outro lado político e sim a uma estrutura, caso contrário a possibilidade de
cair em contos de oportunistas com discursos messiânicos é gigantesca",
completa.
Além dos inquilinos do Planalto, também 40% dos senadores e
150 deputados têm questões por resolver com a justiça. Entre os quais os
presidentes das duas casas, Renan Calheiros e Eduardo Cunha, ambos do PMDB e os
dois na lista de prisões pedida por Janot. No governo, apesar de dois ministros
já terem caído por obstrução à Lava-Jato, metade deles ainda é alvo da justiça
por motivos distintos. E Aécio Neves, do PSDB, o candidato derrotado por Dilma
em 2014, é, como gracejava uma deputada do PT, "citado em todos os
documentos do Brasil desde a carta do Pero Vaz de Caminha".
Mais surpreendente ainda: estrelas do outro lado, o privado,
como os construtores Marcelo Odebrecht e Otávio de Azevedo ou o banqueiro André
Esteves, outrora assíduos nas colunas do social, estão ou passaram pelos
calabouços da polícia. E José Dirceu, claro, também. Mas entre o julgamento do
mensalão e o caso do petrolão o antigo braço direito de Lula da Silva passou de
manchete a nota de rodapé.
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